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Um ano após a proibição dos anorexígenos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
o assunto voltou ao debate, na tarde de ontem, em audiência pública na
Câmara dos Deputados, em Brasília. A Dra. Rosana Radominski, presidente
da ABESO, esteve presente, representando também a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
O
motivo do debate, segundo a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) – uma das
requerentes da audiência junto com a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) –
foi a existência de um Projeto de Lei em avaliação na Comissão de Seguridade Social, que pretende retirar da Anvisa o poder de vetar remédios no Brasil.
Também participaram do debate outros profissionais da área médica, especialistas e parlamentares.
O primeiro a se pronunciar foi o Dr. Dimitri Homar, representante do Conselho Federal de Medicina, que agradeceu a oportunidade de alertar sobre o problema da retirada dos medicamentos antiobesidade do mercado brasileiro.
“A obesidade é doença crônica e tem várias causas. Cada causa requer o uso de um remédio adequado e, na maioria das vezes, é necessário um anorexígeno”, afirmou, acrescentando: “nós sabemos a realidade dos pacientes, não cuidamos apenas de papéis”.
O Dr. Dimitri declarou que a obesidade está crescendo no país, assim como as doenças causadas por ela, e que estão tirando a autonomia do médico e do paciente.
“O
que será da saúde do Brasil daqui a 5 ou 6 anos? Nós alertamos sobre
tudo isso nos outros debates, mas não fomos ouvidos”, completou.
Nutrologia
Em seguida, a palavra foi dada ao Dr. Paulo Giorelli, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). “Dieta e exercícios não resolvem o problema de todos os pacientes”, afirmou.
Ele mostrou três grupos de pacientes que emagreceram com dietas, mas voltaram a engordar e lembrou que baixar 10% de peso já evita muitas outras doenças. E ressaltou: “Isso não é um posicionamento meu. O CFM, que é um órgão maior, e as sociedades médicas são favoráveis aos medicamentos”.
Finalizando, o Dr. Giorelli “levantou a bola” de que, nos Estados Unidos, existe a venda dedietilpropiona, que é o mesmo que anfepramona. E questionou o porquê da dipirona, por exemplo, ser proibida em 16 países e não no Brasil.
Logo depois, a Dra. Rosana Radominski iniciou sua apresentação, reafirmando que, como endocrinologista e professora de nutrologia, acredita nos anorexígenos.
A presidente da ABESO exemplificou os vários tipos de obesidade com relação àadiposidade em diferentes locais do corpo.
“A obesidade é uma doença crônica progressiva. Sabemos que atividade física ealimentação adequada são fundamentais, mas não são suficientes para 50% das pessoas. Se mudança no estilo de vida não resolver, devemos ir para amedicação”, frisou.
A Dra. Rosana salientou sobre o aumento do uso de medicamentos off-label, desde a proibição da Anvisa, e afirmou que “o uso correto da medicação antiobesidade melhora, sim, a qualidade de vida do paciente”.
Também se pronunciou a favor dos anorexígenos o assessor técnico do Conselho Federal de Farmácia, José Luiz Maldonado.
Oposição
Em
oposição aos demais convidados, a Anvisa foi defendida pelo Dr.
Francisco Paumgartenn, coordenador da Câmara Técnica de Medicamentos da
Agência.
Segundo
ele, a proibição dos inibidores de apetite se deve ao fato de que esses
medicamentos não alcançaram o seu objetivo de reduzir doenças
associadas à obesidade e ao sobrepeso e que os efeitos negativos podem provocar infartos e derrames.
Antes
de abrir para os debates,o presidente da Comissão de Seguridade,
deputado Mandetta (DEM-MS), disse ter sentido a falta do presidente da
Anvisa, Dirceu Barbano, numa audiência como essa e afirmou que pretende
ouvi-lo em um outro debate.
Mandetta
criará, nesta quarta-feira, dia 10, um grupo de trabalho para analisar
os fatos que levaram a Anvisa a proibir a venda dos inibidores de apetite e as consequências dessa proibição para a saúde da população.
A favor dos medicamentos antiobesidade também falaram os deputados Felipe Bounier, Alice Portugal e Jô Moraes.
Na
opinião da Dra. Rosana Radominski, os especialistas a favor dos
anorexígenos ganharam um ponto com o debate. No entanto, ela revelou não
ter muitas esperanças, a curto prazo, para a resolução desse problema
da falta de medicamentos, que tanto está afetando as pessoas obesas.
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