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As bactérias intestinais de ratos obesos liberam altos níveis de um
ácido que promove o câncer hepático, revela um dos primeiros estudos a
descobrir mecanismo que associa obesidade e câncer. A pesquisa foi
publicada em 26 de junho, na Nature.
“A obesidade em
geral tem muitos tipos diferentes de câncer associados a ela”, declara
Eiji Hara, biólogo da Fundação para a Pesquisa do Câncer, em Tóquio, e
um dos autores do estudo. Mas no caso do câncer hepático, de acordo com
ele, “Eu nunca imaginei que o microbioma estivesse conectado”.
Hara
e seus colegas inicialmente se puseram a estudar como a morte de
células influencia cânceres ligados à obesidade. Células que estão
irreparavelmente danificadas ou pré-cancerosas podem se tornar
senescentes – o que significa que param de se divir em nome da saúde
geral do organismo. Mas antes de células senescentes morrerem, elas
podem espalhar químicos que podem provocar inflamações e promover o
desenvolvimento do câncer.
Para examinar se as células
senescentes estão envolvidas em cânceres induzidos por obesidade, Hara e
seus colegas trabalharam com ratos geneticamente modificados com
células que emitem luz quando se tornam senescentes. Eles então
prepararam os ratos ao expô-los a um químico carcinogênico, um processo
que, de acordo com Hara, pode ser semelhante à exposição humana a
toxinas ambientais, como a poluição do ar. Os pesquisadores então
alimentaram os ratos com uma dieta normal, ou com uma dieta rica em
gorduras.
Depois de 30 semanas, apenas 5% dos ratos magros
desenvolveu câncer – nos pulmões – enquanto todos os ratos obesos
desenvolveram câncer hepático.
Apesar de os resultados terem
mostrado que a senescência celular estava envolvida no câncer ligado à
obesidade nos ratos, inicialmente Hara e seus colegas não entenderam
porquê o fígado se tornou um viveiro de tumores. Mas quando eles
compararam o soro sanguíneo dos dois grupos de ratos, eles descobriram
que os ratos obesos tinham quantidades muito mais altas de ácido
deoxicólico (DCA), um químico que provoca danos ao DNA e que pode
induzir a senescência celular.
Levar ao fígado
O
DCA é um subproduto do metabolismo em bactérias intestinais. Nos
intestinos, certos tipos de micróbios convertem ácidos biliares – que
ajudam na digestão de gordura – em DCA, que é mais nocivo, e que em
seguida é absorvido pela corrente sanguínea e levado ao fígado.
Os pesquisadores descobriram que ratos obesos tinham um número maior de bactérias Clostridium
que produziam DCA, e que ratos obesos que recebiam antibióticos para
eliminar bactérias intestinais desenvolviam menos tumores hepáticos.
Peter
Turnbaugh, biólogo de sistemas da Harvard University em Cambridge,
Massachusetts, aponta que os dados fornecem um exemplo claro de como o
metabolismo de micróbios celulares conecta obesidade e câncer. “Eles
descobriram uma boa história”, conclui ele.
Este artigo foi reproduzido com permissão da revista Nature. O artigo foi publicado pela primeira vez em 26 de junho de 2013.