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O Dr. Neal Barnard, fundador e presidente do Comité Médico para Medicina Responsável, fala com Heather Quintana, sobre o que há de mais recente na forma de lutar contra a diabetes.

Vibrant Life: Dê-nos uma ideia da extensão do problema da diabetes.

Dr. Neal Barnard: Está a chegar a níveis epidémicos. Há 200 milhões de pessoas – ou mais – no mundo que têm diabetes tipo II. Com cada ano que passa, torna-se mais comum. Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças, em Atlanta, estimam que as crianças nascidas a partir do ano 2000 têm um risco de um em cada três de desenvolver a diabetes em alguma altura da sua vida. É um número astronómico que nunca tivemos.

V.L.: Porque é que a diabetes se está a tornar mais comum?

Dr. N.B.: A causa principal é, na verdade, a dieta ocidental. Por exemplo, o americano médio consome cerca de 20kg de carne a mais todos os anos, se comparado com o que se consumia nos anos 60. Todos os anos, o americano médio consome cerca de 12kg de queijo a mais do que nos anos 60.

V.L.: Muitas pessoas, a quem foi diagnosticada a diabetes, sentem-se desanimadas, temendo que a diabetes seja uma doença que piorará, inevitavelmente. Qual é a sua mensagem para elas?

Dr. N.B.: Temos algumas notícias importantes. Precisamos dessas notícias, porque a diabetes piora, realmente. Para a maioria das pessoas, leva a complicações terríveis. Cerca de 75% das pessoas com diabetes têm um ataque cardíaco, do qual morrem. É a principal causa de cegueira, de amputações, e de falha renal.
Mas as boas notícias é que, a partir de 2003, os National Institutes of Health (Institutos Nacionais de Saúde, dos Estados Unidos) financiaram os testes para as diferentes dietas para a diabetes. A minha equipa de investigação trabalhou numa dieta, e tirámos todos os produtos de origem animal e mantivemos as gorduras e os açúcares a níveis muito baixos. Com esta alimentação, as pessoas podem comer quantidades ilimitadas de vegetais e frutas, grãos integrais e leguminosas. O resultado foi que o nível de açúcar no sangue melhorou cerca de três vezes mais com esta alimentação do que com a dieta convencional para a diabetes.

V.L.: Estruturou as suas recomendações alimentares à volta do que chama os novos quatro grupos de alimentos.

Dr. N.B.: Alguns de nós crescemos com os antigos quatro grupos alimentares, em que os vegetais e as frutas tinham de partilhar um grupo. Nos novos quatro grupos alimentares, há vegetais, frutas, grãos integrais e leguminosas. Portanto, para o pequeno-almoço, pode significar uma taça de papa de flocos de aveia. Para o almoço, pode ser feijão com arroz ou um chili vegetariano. Para o jantar, pode ser esparguete com molho de cebolada.

V.L.: Isso pode ser uma ideia drástica, para muitas pessoas. Que conselho dá àquelas que estejam a pensar em mudar?

Dr. N.B.: Parece mais difícil do que é. Temos uma maneira que funciona a 100%. Basicamente, há dois passos no plano.

PASSO 1: Vá fazer compras. Vamos dizer que encontrou uma receita de que gostou. Vá comprar os alimentos e experimente para ver se gosta. Se encontrar uma receita para um caril vegetariano, faça-a. Se não gosta de cozinhar, mesmo que coma alimentos convencionais, experimente uma pizza vegan. Ou compre cachorros-quentes vegetarianos. Vá provando a comida durante uma semana para ver como ela é.
PASSO 2: Agende um período de três semanas para um teste. Em cada pequeno-almoço, almoço e jantar, não ingira carne ou produtos lácteos e mantenha a gordura e o açúcar baixos. No fim desse período, terão acontecido duas coisas. Primeiro, sentir-se-á melhor: o nível de açúcar no seu sangue estará mais baixo, o seu colesterol começará a descer, a sua energia será melhor, e os seus problemas digestivos terão, provavelmente, desaparecido nas primeiras 48 horas. Segundo, o seu paladar mudará. Esta espécie de mudança no paladar é ilustrada no caso das pessoas que mudam do leite gordo para o leite magro, por exemplo. Muitas vezes, as pessoas não gostam, inicialmente, do leite magro. É aguado e não é agradável visualmente. Mas, duas ou três semanas depois, adaptam-se a ele; e quando tentam voltar ao leite gordo, parece-lhes grosso e cremoso, e não gostam dele. Bem, quando se torna a dieta mais leve, ela não parece muito agradável na primeira semana. Na segunda semana estaremos mais adaptados. Durante a terceira semana, se se tentar comer um cheeseburger com bacon, ele será enjoativo e gordurento. Portanto, o paladar muda, realmente.

V.L.: Além das mudanças na alimentação, que outros estilos de vida ajudam a prevenir, controlar ou reverter a diabetes?

Dr. N.B.: O exercício físico ajuda muito. Ajuda as pessoas a perderem peso, e fá-las sentir melhor, portanto é menos provável que comam entre as refeições.
E deixe-me tocar no assunto do repouso. Quando o relógio dá as 22h00, apague as luzes e vá deitar-se. Muitas pessoas têm a tendência de ficar a pé e, depois, vão fazer um lanchezito. Uma coisa boa de se estar inconsciente e a dormir é que não se consegue ir até ao frigorífico! Outra vantagem do descanso é que o corpo se restaura e se prepara para o dia seguinte. Quem não dorme o suficiente tem menos controlo da dor, do humor e do apetite.
Uma última coisa: devemos pensar um pouco nos nossos relacionamentos. Em muitas famílias, todos querem fazer uma mudança de alimentação, mas não estão em sintonia. Uma pessoa pode ter um grave problema de excesso de peso, mas o resto da família pensa que não está interessada nessa coisa de alimentação vegan. Penso que seria bom que toda a família fizesse a mudança em conjunto. E a maneira de isso acontecer é que todos juntos experimentem o projecto das três semanas.

V.L.: Encontrou resistência da parte das pessoas no que se refere a esta abordagem da alimentação e estilo de vida?

Dr. N.B.: Sim, mas resistência não quer dizer “não”. Por exemplo, se disser a um doente que a investigação mostra que a sua diabetes melhorará se ele adoptar uma alimentação vegan, pondo de lado a carne, mantendo a gordura e o açúcar em níveis baixos, o doente oporá resistência. É natural. Dirá: “Não saberia o que comer” ou “Viajo muito, e a minha família quererá separar-se de mim”. Muitos médicos interpretarão isso como uma recusa. Não é uma recusa. É apenas resistência. E a resistência está a considerar os desafios que precisam de ser ultrapassados para ser capaz de aceitar as recomendações.
Portanto, a pessoa pode viajar muito. Muito bem. Se estiver num restaurante de fastfood, não coma um hamburguer; coma uma salada, ou um hamburguer vegetariano sem queijo. Ou se estiver num hotel que tenham comida italiana, não peça o molho de carne, prefira o molho de tomate. Terá de contornar as coisas.
Sim, as pessoas resistem. Respeito isso e até gosto de o ouvir, porque, se expressam a sua resistência, estão, na realidade, a exprimir as perguntas que querem ver respondidas. Respondo à resistência com educação e incentivo.

V.L.: O que quer que as pessoas saibam sobre a diabetes?

Dr. N.B.: A diabetes pode ser revertida. Com revertida quero dizer que se se tiver um nível de açúcar no sangue cada vez mais alto, pode começar a descer. Se tiver de recorrer a doses cada vez maiores de medicação, essas doses poderão começar a ser reduzidas. Se já se tiver tido complicações, essas complicações poderão diminuir e, em alguns casos, até podem ser evitadas. Não estou a dizer que todas as pessoas com diabetes serão curadas, mas as pessoas podem melhorar, e, em alguns casos, melhorar muito.

O Dr. Neal Barnard é o fundador e presidente do Comité Médico para Medicina Responsável. Também é presidente do Cancer Project (Projecto do Cancro), chefe do Washington Center for Clinical Research (Centro de Washington para a Investigação Clínica), e professor adjunto da George Washington University. O seu último livro tem o título “Dr. Neal Barnard’s Program for Reversing Diabetes (Programa do Dr. Neal Barnard para Reverter a Diabetes).

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